Gap Year

O meu filho de 16 anos que, modéstia à parte é um excelente aluno do ensino secundário de Científico-Tecnológicas, propôs-me um destes dias, terminar o 12º ano, candidatar-se à universidade com a certeza de entrar e fazer desse ano lectivo, um Gap Year. Como ía a conduzir e ele ao meu lado, torci-lhe o olhar de soslaio e perguntei-lhe qual era a ideia. Disse-me que queria fazer um ano de pausa para descansar.
Dialogo normalmente com os meus filhos com imensa calma recorrendo à ironia, de uma forma que me é inerente, que é por eles entendida e partilhada porque a lei da hereditariedade funcionou na perfeição entre mim e os rebentos, e com este tom, questionei-o sobre o seu financiamento no ano de pausa – seria da minha responsabilidade ou da dele, e se porventura já tinha pensado no assunto. Percebi que não tinha reflectido na questão, mas pragmático e decidido como aparenta estar, assegurou-me que me daria uma resposta brevemente.

Fiquei a matutar no assunto. O Gap Year foi uma invenção inglesa dos anos 60, pode também ser designado por time out, time off ou drop year, praticado anualmente por um número considerável de jovens ingleses, americanos, indianos e japoneses e as experiências que tive oportunidade de ler na internet, são sempre relatadas como algo muitíssimo gratificante e de evolução pessoal, podendo até ser um requisito preferencial em questões de entrada em certas universidades e futuros empregos.

Interessante não é?

Acabei por falar do assunto com dois amigos meus com filhos rapazes na mesma faixa etária e ambos me confirmaram que o assunto já tinha entrado nas suas casas. Ou seja, o Gap Year está a tomar a forma de trend, moda, onda, influência, facto que pode levantar alguns problemas aos pais e que me parece dever ser atentamente seguido e devidamente ponderado.

Tenho quase a certeza que para este meu filho, que tem dado mostras de ser um tipo inteligente e interessante, um ano de pausa escolar com oportunidade de desenvolver um conjunto de actividades fora da normalidade da sua vida actual, seria absolutamente enriquecedor e devia dar-lhe um extraordinário gozo pessoal. Por outro lado, se ele sair à mãezinha como parece evidenciar, vai interessar-se pelas coisas mais estrambólicas, arriscadas, riscófilas e pior, vai gostar delas com aquele entusiasmo febril, como eu, mesmo mais velha e a dever ter juízo, ainda fico. E isso é um perigo! Bolas, é o meu menino e custa-me vê-lo partir.

O facto de estarem a nascer estas ideias aos miúdos portugueses, pode também ser analisado do ponto de vista de mensurabilidade do seu nível de expectativa ou perspectivas para o futuro, que deve evidentemente ser baixíssimo e extremamente limitativo na aplicação de energias à criatividade dos seus amanhãs. Um curso, um emprego, um salário, é algo perfeitamente utópico nesta geração e acredito perfeitamente que a tendência para se despadronizarem de algo que não está a funcionar, tem toda a lógica e é revelador da maravilhosa capacidade de mimetismo humano na adaptação ao meio e às condições adversas.

Isto é realmente um caso sério para pensar…

(mais aqui e aqui e também aqui)

2 thoughts on “Gap Year

  1. Percebo os perigos inerentes à questão mas ao mesmo tempo acho que é de ponderar. Em breve terei o meu Pulga (acho que vou ter de deixar de lhe chamar Pulga!) na mesma situação. Acho que estar formado (licenciatura somente) aos 19 anos tem os seus lados negativos. Tenho uma amiga que esteve nessa situação e o seu “Gap Year” foi feito posteriormente. Por um lado porque não sabia bem o que queria a seguir e por outro não arranjava trabalho por falta de experiência. Apostou num mestrado, num estágio não remunerado e os pais continuam a financiar pois não há outro remédio. Portanto Gap Year ou desempregado licenciado a meu ver tem poucas diferenças… Mas vejo os perigos, tal como a Luísa!

    Abraço

    1. pois….a gente preocupa-se com os miúdos, não é? embora também saibamos que os ‘quereres’ têm mt força.
      sabes quem é que precisava de um ‘ganda’ Gap Year? eu, que também sou filha de Deus.
      deixa-me dizer-te q o teu nick é do outro mundo, tenho uma tremenda inveja dele, mesmo sendo ‘gaja’ na realidade. ;-)

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